25 de Setembro de 2009 - 22h40 - Última modificação em 26 de Setembro de 2009 - 00h33
Michelleti descarta acordo com volta de Zelaya ao poder
Roberto Maltchik
Enviado Especial da EBC
Tegucigalpa - O presidente interino de Honduras, Roberto Michelleti, descartou hoje (24) o retorno de Manuel Zelaya ao poder para acabar com a crise política no país, que iniciou com o golpe do dia 28 de junho. A afirmação praticamente inviabiliza um desfecho para o impasse no curto prazo, já que a comunidade internacional rejeita qualquer entendimento que não envolva o retorno imediato do presidente deposto.
“A volta de Manuel Zelaya é totalmente descartada porque a Constituição da República não permite que nenhuma pessoa que tenha sido presidente da República possa voltar. Ele [Zelaya] tem contas pendentes com a Justiça, e ele tem que responder por isso”, disse Michelleti em entrevista a jornalistas brasileiros.
Nas últimas 24 horas, quatro dos seis candidatos à Presidência de Honduras chegaram a afirmar que o diálogo estava encaminhado e que estavam previstos "avanços efetivos" nas negociações durante o fim de semana.
Michelleti também descartou a retirada das tropas que cercam a embaixada brasileira desde a última segunda-feira (21), quando Manuel Zelaya pediu abrigo. Segundo o presidente do governo golpista, a decisão de cercar a embaixada apenas atende a um pedido do governo brasileiro.
“Estamos respondendo o pedido de Lula ao governo de Honduras. Que nós iriamos garantir a integridade da embaixada e também a vida de quem está lá dentro. É o que estamos fazendo. Tiramos um pouco de gente lá de dentro, e estamos deixando inteiramente a liberdade de mobilidade. Estamos comprometidos em garantir o acesso à parte de fora da embaixada ao povo e ao governo do Brasil”, disse.
Mas, aqui em Tegulcigalpa, não é possível chegar sequer em frente à Embaixada do Brasil. Hoje, centenas de soldados e policiais da tropa de elite reforçaram o cerco.Ao ser perguntado se poderia suspender o cerco à embaixada, caso houvesse um pedido do Brasil, Micheletti foi enfático. “E a segurança dos nossos cidadãos, quem vai fazer? O Brasil vai vir aqui? Primeiro, atendemos o pedido do presidente Lula, depois garantimos a segurança das redondezas”, afirmou.
O presidente golpista ainda disse que é preciso investigar a responsabilidade do Brasil sobre os confrontos e os danos que ocorreram em Tegucigalpa desde que Zelaya abrigou-se na embaixada brasileiral.
“O que queremos é averiguar a verdade. O presidente do Brasil disse que não sabia de nada que estava acontecendo aqui em Honduras. Mas o ex-presidente Zelaya disse que o presidente Lula da Silva sabia que ele estaria ali, que tinha concedido a permissão. Vocês viram essas declarações, elas estão em todos os meios de comunicação”, disse.
Michelleti ainda pediu mais tempo para receber uma missão da Organização dos Estados Americanos, que deveria desembarcar na capital de Honduras nesta sexta-feira. O chanceler de Honduras, Lopez Contreras, afirmou que o convite será feito no momento oportuno.
O presidente interino de Honduras ainda admitiu, surpreendente, que as pessoas que expulsaram Manuel Zelaya do país devem ser julgadas. “O único mal que fizemos foi ter tirado o ex-presidente Zelaya do país. Então, temos que julgar essas pessoas que fizeram isso por conveniências pessoais. Se se cometeu o erro, tem que se julgar o erro. Se 90% das coisas estão certas, temos que dizer que quem está errado são eles, não a gente”.
Ele ainda disse que o acesso dos jornalistas brasileiros à própria embaixada será permitido, desde que haja um pedido formal da Chancelaria brasileira. No entanto, o Brasil não reconhece e não se comunica, em nenhuma hipótese, como o governo de Micheletti. Sequer recebe as correspondências encaminhadas pelo governo golpista.
Edição: Aécio Amado
Agência Brasil - Michelleti descarta acordo com volta de Zelaya ao poder - Direito Internacional
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