4 de Dezembro de 2008 - 19h35 - Última modificação em 4 de Dezembro de 2008 - 19h35
Contrários à privatização de aeroportos, sindicalistas se solidarizam com Gaudenzi
Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), Sérgio Gaudenzi, ganhou a solidariedade de sindicatos de trabalhadores do setor aéreo após entregar ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, seu pedido de demissão. O pedido foi encaminhado ontem (3).]
Como Gaudenzi, que continuará à frente da estatal até a nomeação de seu substituto, os sindicalistas discordam da proposta do governo de conceder à iniciativa privada a gestão de aeroportos lucrativos.O presidente do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, Francisco Lemos, lamentou que Gaudenzi “tenha sido levado” a pedir demissão. “Lamentamos sua saída da presidência da empresa porque, ao declarar ser contrário à privatização, ele se tornou um aliado nosso”.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio, também lamentou que Gaudenzi deixe o cargo dessa forma. “Há uma pressão muito grande do setor privado pelas privatizações e o governo deveria abrir essa discussão à participação da sociedade”, comentou Graziella.Já para a secretária-geral do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, Gaudenzi teve uma “postura decente”. “Ele não concorda com o que nós achamos ser uma grande sacanagem, ou seja, a privatização dos aeroportos rentáveis em detrimento dos demais, que não dão lucro”.
Para os sindicalistas, a concessão de equipamentos lucrativos como os aeroportos internacionais Antônio Carlos Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro, e Viracopos, em Campinas (SP), desequilibrariam as contas da Infraero.
“Dos 68 aeroportos administrados pela empresa, somente 12 são lucrativos. Mesmo assim, a Infraero constrói, administra e mantém aeroportos sem precisar do governo. Sem seus principais aeroportos, a empresa irá precisar do dinheiro do Tesouro para subsidiar outros que não dão lucro, mas que são imprescindíveis para a infra-estrutura nacional”, argumentou Lemos, do sindicato dos aeroportuários.Os sindicalistas dividem a opinião de que a privatização, qualquer que seja o modelo, poderá debilitar o sistema aeroportuário brasileiro, encarecendo os preços das passagens aéreas e dificultando projetos de integração nacional. “Em países onde os aeroportos foram privatizados, a primeira coisa que as empresas fizeram foi aumentar as taxas de embarque e de estadia das aeronaves no pátio. Isso, conseqüentemente, encarece o transporte aéreos”, avaliou Lemos.
Os sindicalistas criticaram o governo por não discutir o assunto com a sociedade e nem mesmo com os trabalhadores e empresários do setor. “As decisões estão sendo tomadas entre quatro paredes e nós, trabalhadores e empresários, estamos ficando à margem de discutir um tema importantíssimo não só para o Brasil, como para a América do Sul”, declarou Lemos.
Selma Balbino vai além na crítica. “Sabemos que essa gente [empresários interessados na privatização] quer o filé. Sabemos de pessoas que vêm para o Brasil querendo comprar empresas a preço de banana para, então, demitir trabalhadores. Temos certeza de que é isso que vai acontecer se o governo levar essa idéia adiante. E quem vai pagar o preço, além dos usuários, serão os trabalhadores, com a precarização de salários e dos direitos trabalhistas.”
Embora o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já tenha dito em mais de uma ocasião que a concessão do Galeão e de Viracopos à iniciativa privada é certa, sendo uma decisão de governo, os sindicalistas defendem que a palavra final sobre o assunto seja do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem, adiantam, irão cobrar “coerência”.
“A comunidade aeroportuária vai pressionar o governo Lula para que isso não aconteça. Não podemos esquecer que, em seu programa de governo, o presidente se dizia contra às privatizações.” “Temos que lembrá-lo que ele não pode ter um discurso para ganhar eleição e, após ganhar, ter uma prática diferente. Nós, trabalhadores, vamos cobrar coerência do governo Lula”, completou Selma.
Ontem (3), a assessoria da Infraero informou que o nome do futuro presidente da estatal não está definido e que a indicação caberá ao Ministério da Defesa. No mês passado, ao ser questionado sobre o tema, Jobim declarou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está realizando estudos para definir o modelo de concessão dos aeroportos e que, qualquer que seja a fórmula adotada, a eventual perda de receitas da Infraero será sanada com uma “reorganização interna” da estatal.
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