28 de Dezembro de 2009 - 08h51 - Última modificação em 28 de Dezembro de 2009 - 08h51
Orgânicos - Município mineiro muda de sistema e se transforma em polo de produção
Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A cidade mineira de Gonçalves, localizada em um vale da Serra da Mantiqueira, está se tornando um importante centro de produção orgânica. Há cerca de dez anos, a cultura mais importante do município era a batata.
Os agricultores não estão conseguindo produzir o suficiente para atender à demanda crescente por legumes e verduras plantados sem agrotóxicos. “Falta produto. Na verdade, tentamos aumentar a produção, mas o clima não está ajudando”, afirma Carla Beschizza, sócia e administradora da Orgânicos da Mantiqueira, empresa responsável por comercializar a produção da região.
“Aqui está se tornando um polo de orgânicos. Mas tem muita gente que ainda planta cenoura e batata no sistema convencional”, diz Carla.
A maior parte da produção orgânica da cidade mineira é vendida em São Paulo, em cestas com dez itens que são entregues em domicílio. Segundo Carla, a instabilidade do clima, no entanto, prejudica a montagem das cestas, impedindo a manutenção da diversidade de produtos. Algumas vezes, as temperaturas chegam a variar 10 graus centígrados num mesmo dia.
Também faltam distribuidores para escoar a produção em São Paulo. “Pode fazer propaganda aí, quem sabe aparece mais alguém”, brincou a empresária. A maior parte da produção de orgânicos de Gonçalves não é vendida nos supermercados e, sim, entregue a oito pessoas que a redistribui ao consumidor final. Elas recebem as cestas em Pirituba, região norte da capital paulista, e as revendem por um preço que varia de R$ 30 a R$ 35.
O modo de distribuição alternativo e alguns contratos com supermercados garantem um faturamento mensal de aproximadamente R$ 50 mil Orgânicos da Mantiqueira. Carla explica que a maior parte dos rendimentos é destinada aos produtores. “A empresa funciona basicamente como uma cooperativa”, explica.
A renda obtida com a venda da produção proporciona uma vida razoável aos agricultores dedicados a orgânicos. “Nenhum deles está nadando em dinheiro, mas também não há nenhum pobrezinho.” Carla conta ainda que metade desses produtores adota um sistema de agricultura familiar, enquanto o restante contrata empregados como em uma propriedade tradicional.
Um dos responsáveis por implementar a plantação de verduras e legumes sem agrotóxicos em Gonçalves, Paulo César de Castro utiliza em suas terras um modo de produção misto. São quatro pessoas trabalhando, incluindo ele próprio e seu pai, e os outros dois são contratados. Eles usam na produção um trator comprado recentemente. “Aqui não tem mão de obra, então, a gente tem que investir em equipamento para aumentar a produção e se cansar menos.”
De acordo com Castro, a produção orgânica exige até três vezes mais do agricultor porque, como não há uso de herbicidas, é maior o manejo manual. Ele vê esse modo de produção até como uma possível solução para a falta de emprego no campo. “Se a gente conseguisse aumentar bem mais a produção de agricultura orgânica, com certeza ia ter menos deslocamento de mão de obra para a cidade. Agricultura orgânica exige muita mão de obra.”
O esforço é recompensado pela estabilidade de rendimentos. De acordo com o agricultor, os preços dos orgânicos variam muito pouco durante o ano. Outro ponto interessante é a rotatividade de culturas que permite colheitas constantes. “Toda a semana você está colhendo, tem uma estabilidade e um giro de dinheiro que facilita a vida da gente”, observa o produtor, diante de sua plantação de brócolis e couve-flor.
As terras das propriedade de Castro estão divididas em quatro partes: em uma, a terra acabou de ser preparada para ser semeada; na segunda, as plantas acabaram de brotar; na terceira, os vegetais estão prontos para serem colhidos e, na última, a colheita já foi feita.
“Antes não, você fazia o que a gente chama de lavoura das águas. Fazia uma ou duas grandes lavouras no ano. Se tivesse a sorte de conseguir um bom preço, estava sossegado. Se a lavoura fosse estragada por um temporal, não tinha outra pronta para colher e substituir a produção perdida.”
Os problemas de produção relacionados com o clima poderiam ser solucionados, na opinião do agricultor, com o desenvolvimento de sementes adaptadas às diferentes condições atmosféricas. “Sem uma pesquisa que nos leve a uma semente híbrida orgânica, adaptada a cada época do ano, vai ser complicado produzir. O clima está muito maluco.”
Edição: Lana Cristina e Nádia Franco
Nenhum comentário:
Postar um comentário