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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Agência Brasil - Não haveria trio, não fosse a invenção do pau elétrico, diz Armandinho - Direito Público

 
25 de Fevereiro de 2009 - 18h07 - Última modificação em 25 de Fevereiro de 2009 - 19h37


Não haveria trio, não fosse a invenção do pau elétrico, diz Armandinho

Luciana Lima
Enviada Especial

 
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Salvador - Os trios elétricos, que caracterizam o carnaval de Salvador, não existiriam hoje não fosse a invenção do pau elétrico, que deu origem à guitarra baiana. A opinião é de Armandinho, um dos herdeiros dos responsáveis pelo feito: o  técnico em eletrônica Dodô e seu amigo metalúrgico, Osmar Macêdo.

“O pau elétrico foi a grande revolução. Antes do trio, a revolução foi a descoberta desse instrumento maciço”, destacou,  em entrevista à Agência Brasil, o músico que é filho de Osmar Macêdo e um dos componentes do trio Armandinho, Dodô e Osmar.

Ele conta que a descoberta ocorreu por volta de 1938, quando Osmar conheceu Dodô no conjunto Três e Meio, de Dorival Caimmy.“Dorival foi para o Rio de Janeiro e meu pai foi para o lugar dele. Aí conheceu Dodô e ficaram amigos. Os dois já falavam nessa captação que botava no violão, eletrificava o som e o aumentava. Eles queriam tocar nos lugares, o povo começava a beber, a falar alto e eles percebiam que o violão não tinha som”, contou Armandinho.

Segundo ele, nessa época, os captadores elétricos ainda não existiam na Bahia. Em 1942, o violonista Benedito Chaves foi tocar no antigo Cine Teatro Guarany, localizado na Praça Castro Alves. Era a primeira vez que o técnico em eletrônica Dodô viu o instrumento e ficou entusiasmado com o aparelho para amplificar o som.

“Dodô foi ver Benedito Chaves e seu violão elétrico que era a grande sensação da época. Quando acabou o show eles foram lá falar com o Benedito para pegar o jeito de fazer aquela captação. Dodô descobriu logo como se fazia aquilo. Foi fácil para ele que já fazia bobinas. Ele mesmo começou a fazer os captadores e botava no violão dele e no cavaquinho de meu pai”, relatou Armandinho.

Aumentar o som, Dodô já havia conseguido. A partir daí o problema era outro: resolver a questão da microfonia.

“Era só colocar na caixa do violão que apitava. Aí meu pai resolveu encher a caixa do cavaquinho de flanela. Ele entupiu o cavaquinho e descobriu que se abafasse, poderia aumentar mais o volume, tinha mais um ganho. Pensou: vamos fazer sem a caixa, tudo maciço. Acho que vai dar certo. Fizeram a experiência em uma bancada, colocaram um parafuso de um lado e do outro, esticaram uma corda, colocaram o captador embaixo e aumentaram o volume todo do aparelho e viram que não apitava”, contou.

Com a descoberta, os dois amigos pensaram que haviam encontrado o caminho para um instrumento com um som alto e sem distorções. Restava então fabricá-lo. Foi então que Osmar foi à loja Primavera, na Praça da Sé, para comprar um cavaquinho e um violão. O objetivo era quebrar o bojo dos dois instrumentos e extrair apenas o braço. “Eles não sabiam fazer o braço. Queriam tirar só braço para completar com o cepo, cortado de jacarandá maciço”, disse Armandinho.

Segundo ele, a façanha quase acabou na Polícia, porque o pai chegou na loja querendo quebrar o violão que estava à venda. "Chegou perguntando para o atendente: Esse violão é bom? O menino dizia para ele não bater daquela forma no violão porque poderia estragar. Ele bateu com o violão na quina do balcão e disse para o menino: Você falou que era bom. Aí, quebrou. O menino ficou pálido e foi chamar o dono”.

Quando o dono da loja chegou, nem viu que era Osmar, já conhecido na loja e foi direto chamar a polícia. O músico teve que correr atrás dele explicando a brincadeira e dizendo que queria mesmo ficar com os instrumentos quebrados.

Com o braço deles e o cepo feito de madeira maciça, os dois amigos começaram a fazer sucesso entre os amigos com som amplificado.

“Foi aí, que os amigos, em tom de esculhambação, colocaram o nome de pau elétrico. Eles brincavam dizendo que o pau de Dodô era um violão e o de Osmar era um cavaquinho”, contou Armandinho, “Na verdade a gente chamava de violão elétrico e de cavaquinho elétrico”, completou.

Osmar Macêdo e Dodô não registram a patente da guitarra e do trio elétrico e a família preferiu respeitar o comportamento dois. “Quem tinha que fazer isso eram Dodô e Osmar, mas eles nunca imaginaram que toda essa transformação iria acontecer”.

De acordo com Armandinho, há a suspeita de que eles teriam criado a guitarra maciça antes de Leo Fender, dono da marca americana mais famosa e dona da patente. Segundo Armandinho, em 1945, após a 2ª Guerra Mundial, Dodô vendeu uma guitarra maciça para um marinheiro americano que estava no Brasil.

“O que se sabe é que esse marinheiro comprou uma guitarra na mão de Dodô e levou para os Estados Unidos. Sabe-se lá se não era o Leo Fender. Só sei que no terceiro ano de trio elétrico é que eles tiveram o conhecimento de que os americanos tinham feito a guitarra maciça. Simplesmente disseram um para o outro: Viu? Nós estávamos no caminho certo. Se eles descobriram era porque nós estávamos certos”, contou Armandinho.

Atualmente, existem estudos para tombar a guitarra baiana como patrimônio artístico e cultural da Bahia.



 


Agência Brasil - Não haveria trio, não fosse a invenção do pau elétrico, diz Armandinho - Direito Público

 



 

 

 

 

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