23 de Fevereiro de 2009 - 20h31 - Última modificação em 23 de Fevereiro de 2009 - 20h31
Mestre Salustiano recebe homenagens no carnaval de Recife e Olinda
Juliana Cézar Nunes
Enviada Especial da Rádio Nacional
Recife - A Nação Maracatu Piaba de Ouro está de luto. O estandarte bordado em vermelho e dourado recebeu este ano uma faixa preta em homenagem ao mestre Salustiano, que morreu no ano passado. Ele foi um dos criadores da nação, há 32 anos, em Olinda. O carnaval da cidade em 2009 é dedicado a Salu. Filhos e seguidores lembram sua história e tentam pensar no futuro sem o “rabequeiro e guerreiro pernambucano”.
Cleiton Salu recebeu a tarefa de puxar o hino deste ano da Nação, no encontro de maracatus, que ocorre na Praça do Marco Zero, centro de Recife. “Meu pai ensinou a gente a fazer cultura, o que a gente sabe a gente não aprendeu com professor de escola. O que a gente não sabia ia perguntar pra ele. E hoje pergunta a quem? Ele cumpriu a parte dele, agora tá na mão da gente cumprir a nossa.”
A rainha da Nação Piaba de Ouro, Laise de Souza, 21 anos, também vem se emocionando com as homenagens ao mestre Salustiano, com quem conviveu desde os 3 anos de idade. “Foi uma coisa inexplicável chegar sem o nosso mestre para nos receber. Mas temos que seguir adiante. Sou rainha há seis anos e não deixo o maracatu por nada.”
Filho de mestre Salustiano, Maciel Salu, falou sobre a história e o exemplo que o pai deixou. “Acho que Salu contribuiu muito para a cultura de Olinda, de Pernambuco e do Brasil. Um grande nome até mesmo no exterior. Foi uma pessoa que chegou aqui, em Olinda, e trouxe sua bagagem de cultura. Saiu do interior, [foi] trabalhador de cana, trabalhou de vendedor de picolé. Brincou com o cavalo marinho, maracatu, ciranda, mamulengo. Ensinou para nós, os filhos, para os amigos e para outras pessoas que vieram do interior e encontraram com ele aqui”, afirmou.
Fundadas pelo mestre Salustiano, a sede da Nação Piaba de Ouro e a Casa da Rabeca, em Olinda, ensinam bordado, dança e música para os jovens de comunidades da cidade ou mesmo do interior. Gleidson Cássio Silva, 19 anos, saiu de Nazaré da Mata para ter aulas de saxofone na Casa da Rabeca e chegou a ter aulas com o mestre Salu.
“Meus amigos de Nazaré também aprenderam com ele o maracatu. É muito emocionante tocar agora em homenagem a ele. Fica o exemplo de um mestre que batalhou para conseguir as coisas e hoje os filhos dão continuidade com a gente.”, disse.
Mestre Salustiano fez da rabeca e do maracatu manifestações culturais mais conhecidas em todo o Brasil e no exterior. O maracatu tem raízes na cultura afro e rural. Sua representação é uma crítica aos cortejos reais.
Rainhas negras e lanceiros caboclos tomam lugar dos personagens europeus. Até a Quarta-Feira de Cinzas, quase 100 grupos de maracatu tomam as ruas de Pernambuco, na capital e no interior. É a tradição que mobiliza o ano todo trabalhadores rurais e jovens artistas.
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