24 de Fevereiro de 2009 - 13h35 - Última modificação em 24 de Fevereiro de 2009 - 15h25
Bairro de São Luís é palco de festival de diversidades nesta época do ano
Ivan Richard
Enviado Especial
São Luís - A cada esquina, uma surpresa. Nessa época do ano, o bairro da Madre Deus, no centro de São Luís, se transforma em um festival de diversidades. Blocos tradicionais, como o Bicho Terra, dividem espaço com grupos afro e de travestis, tambores de crioula e blocos de sujo e de reggae. Em meio ao caos alegre que se instala no lugar, passam, apressados, foliões com fantasias exuberantes, cheias de plumas e paetês, rumo à Passarela do Samba, para mais um desfile de escola ou de bloco.
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Crianças vestidas com as tradicionais fantasias de fofões – roupas folgadas, feitas de chita estampada – e usando máscaras, zombam da brincadeira que, a princípio, tinha o objetivo de assustá-las. “A criançada se diverte muito com o fofão. Mal começa o carnaval e meu filho já pede para comprar a fantasia”, contou a dona de casa, Raimunda Silveira.
Idosos comparecem, às vezes, de bengala e tudo. Nada é empecilho para a brincadeira. “Eu danço o tambor de crioula nos blocos tradicionais. Não fico parada não”, disse a aposentada conhecida como Mãe Dadá, de 85 anos. Segundo ela, 80 deles dedicados ao carnaval em São Luís.
Fecha o olho! Esse é o único aviso que se recebe antes de um “servido” banho de amido de milho, popularmente conhecido como Maizena. A graça dos foliões dos blocos de sujo é sempre bem recebida e retribuída. “Se passar pela gente limpo, vamos sujar”, afirmou o estudante Anderson Souza.
Os blocos de amigos, com camiseta, músicas e circuito próprios, também não perdoam quem encontram pelo caminho. Todos ficam “lambrecados”. A chuva que caiu todos os dias na cidade contribuiu ainda mais para a divertida brincadeira. “Com a chuva, quem já estava sujo tem que passar pela Maizena de novo”, afirmou o vendedor André Silva.
Nos tambores de crioula, senhoras rodopiam girando as saias e batendo as barrigas, umas nas outras, seguindo os ritmos dos tambores. De lenço na cabeça e camisas brancas e bordadas, os foliões repetem a dança originada nos quilombos maranhenses. Também em nome da tradição, negras sorridentes desfilam em roupas com estampa de onça. As mais experientes usam as vestes africanas: “Temos sempre que lembrar da cultura negra, muito importante no Maranhão e também no Brasil”, ressaltou a brincante Francisca.
O homem fantasiado de borboleta, com extravagantes dois metros de envergadura, abre espaço para a passagem de um caminhão, onde homens e mulheres, todos com indumentárias igualmente exageradas, atraem a atenção para o respeito à orientação sexual de cada um. Depois que passa o estardalhaço, continua a tocar o grupo que se apresentava em um dos quatro palcos espalhados pelo bairro da Madre Deus.
Em cada bar da praça, sempre há outra festa, mais particular, mas não exclusiva, onde também se reúnem os foliões que não acharam graça na chegada da chuva
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