29 de Março de 2009 - 19h16 - Última modificação em 29 de Março de 2009 - 19h16
General Heleno deixa comando militar da Amazônia no próximo dia 6
Leandro Martins*
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - Depois de atuar como comandante da Missão das Nações Unidas no Haiti, a Minustah, e levantar questões polêmicas com relação à soberania brasileira na Amazônia e à política indigenista do país, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira trocará de função mais uma vez, no próximo dia 6.
Comandante-geral militar da Amazônia desde 2007, Heleno ficará, agora, à frente do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, sediado em Brasília. No Haiti, ele coordenou militares de 13 países, nos anos de 2004 e 2005.
No comando militar da Amazônia, entrará o general Luís Carlos Gomes Mattos. Heleno afasta qualquer possibilidade de retaliação à sua conduta, com a substituição.
“Não há nenhuma retaliação, como já andaram falando aí, da minha saída. Eu estou indo para uma função de general de quatro estrelas, extremamente relevante. O meu substituto, que é o general Mattos, vai encontrar aqui um enorme trabalho para fazer e tem todas as condições para fazê-lo, de forma até mais competente do que eu fiz”, afirmou.Em abril do ano passado, Heleno criticou o fato do governo transformar a faixa da fronteira norte do país em áreas indígenas. Ele também classificou a política indigenista do governo de “caótica”.
Na época, o general não se mostrou preocupado por estar criticando o governo e disse que o Exército serve ao Estado. Hoje, às vésperas de deixar o posto, ele mais uma vez fala sobre a Amazônia.
“A Amazônia brasileira é Brasil, é nossa, e não tem ninguém que deva ficar dando palpite na Amazônia. Nenhum país no mundo tem a moral para dar palpite em termos de conservação ambiental, preservação, não sei o quê”, disparou.
O general sempre reclamou por mais investimentos militares para a Amazônia, advertindo sobre as dificuldades enfrentadas pelos soldados que atuam na região.
“Completamente isolados de todas as facilidades, cercados de selva por todos os lados, alguns desses pelotões se valem do aproveitamento de água da chuva. Ora, nós estamos no século 21. Não é possível que, em um país rico como o Brasil, nós ainda tenhamos militares submetidos a um enorme sacrifício. Temos que investir para resolver esse problema”, observou.
Para Heleno, mais que armamentos modernos para defender a Amazônia, o mais importante é o efetivo humano. “A grande arma nossa na Amazônia é dispor do melhor combatente de selva do mundo. Cerca de 60% [dos militares que servem na região] são de origem indígena. Eles conhecem profundamente a selva e aproveitam a selva como ninguém”, disse.
Acostumado à rotina militar, sempre pautada por transferências e mudanças de cargo, Heleno não esconde que sentirá falta da função que desempenha. “Vou deixando uma boa parte do meu coração aqui na Amazônia, vivi intensamente o meu comando aqui, sinto aquela frustração de não ter feito tudo o que eu queria.”
Mas o general se adianta em falar da importância do Departamento de Ciência e Tecnologia, que comandará a partir do dia 6.
“Hoje não se pode falar em combate, em ações bélicas, sem nos reportarmos a um alto grau de ciência e tecnologia que envolve todos os equipamentos. Então, esse departamento é muito importante, porque ele cuida de toda a parte de comando e controle”, explicou.
Segundo Heleno, essa é a 24ª troca de função pela qual ele passa na carreira militar.
* Colaborou Lana Cristina, da Agência Brasil
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