26 de Novembro de 2008 - 17h53 - Última modificação em 26 de Novembro de 2008 - 17h53
Agente da Abin diz a deputados que Lacerda recebeu relatório sobre escutas telefônicas
Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Márcio Seltz disse hoje (26) que o ex-diretor da instituição Paulo Lacerda teve acesso a um relatório que continha análises de matérias jornalísticas e áudios de interceptações telefônicas realizadas durante a investigação da Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
O agente, que foi colocado à disposição do delegado Protógenes Queiroz, que comandou a operação, prestou depoimento hoje na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas da Câmara dos Deputados.
Para o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), o depoimento de Seltz foi uma contradição à versão apresentada por Lacerda e demonstrou que o ex-diretor teve acesso a dados confidenciais. “Ele foi desmentido cabalmente. No meu entender, quem mentiu para a CPI deve ser indiciado por falso testemunho”, afirmou Itagiba.
Seltz disse que, embora não tenha havido nenhum pedido formal para que fosse cedido à PF, considera que sua participação foi “legal, oficial e formal”. “Para mim, foi formal, porque recebi uma ordem direta do diretor-adjunto da Abin [José Milton Campana, afastado do cargo]. E, para mim, foi uma honra receber essa missão”, acrescentou.
A atribuição de Seltz durante o período em que ficou à disposição da Polícia Federal era, primeiramente, fazer uma triagem de e-mails, separando-os por mensagens pessoais e conteúdos relacionados ao trabalho. Na egunda etapa, ele passou a analisar notícias publicadas na imprensa. Para Seltz, o trabalho não exigia muito esforço intelectual e era mais simples do que o que ele realizava na Abin. “Qualquer estudante universitário poderia fazer.”
Ele disse que não se sentiu incomodado, nem estranhou quando recebeu a missão de participar das investigações, pois a colaboração entre Abin e PF é corriqueira. Além disso, segundo Seltz, os agentes da Abin não costumam questionar as ordens que recebem. “Nossa satisfação está em servir as chefias de forma satisfatória. Missão dada é missão cumprida. Podemos até achar estranho, mas isso não impede que cumpramos [a missão] da melhor maneira possível.”
Na avaliação do agente, seria muito difícil que algum funcionário da Abin tivesse realizado escutas sem que a diretoria soubesse. “Só se fosse maluco, os agentes são muito disciplinados”, ressaltou. Seltz não acredita que algum agente da Abin tenha realizado escuta ilegal: “Não conheço ninguém na agência que estaria disposto a correr esse risco”, afirmou, lembrando que ex-agentes estariam mais dispostos a realizar esse tipo de trabalho, mas não a serviço da Abin.
O depoimento do agente José Ribamar Reis Guimarães, que também estava previsto para hoje, foi cancelado. Ele havia pedido um habeas corpus preventivo ao Supremo Tribunal Federal (STF), que foi negado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário