Anúncios


quinta-feira, 19 de março de 2009

Agência Brasil - Nas ruas, muita gente ainda desconhece discussão sobre Raposa Serra do Sol - Direito Público

 
19 de Março de 2009 - 15h17 - Última modificação em 19 de Março de 2009 - 15h17


Nas ruas, muita gente ainda desconhece discussão sobre Raposa Serra do Sol

Amanda Cieglinski*
Repórter da Agência Brasil

 
envie por e-mail
imprimir
comente/comunique erros
download gratuito

Brasília - Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa há quase sete meses a questão da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, a população do restante do país parece estar alheia às discussões. Nas ruas, alguns sabem o que está sendo julgado pelo tribunal e até discordam do posicionamento da maioria dos ministros do Supremo que, até o momento, é favorável à demarcação contínua das terras e à retirada dos arrozeiros da região.

Nem a proximidade física com o plenário onde está sendo realizado o julgamento desperta o interesse de alguns moradores de Brasília pelo caso. “Está sendo julgada a questão das terras de índios que querem vender para particulares. Não sei como está sendo o posicionamento do STF. O julgamento podia ter mais visibilidade. Na escola, os professores não falam muito sobre questões como os sem-terra e os indígenas”, opina o estudante Guilherme Faria, 18 anos.

A professora Maria dos Remédios dos Santos, 57 anos, moradora de Brasília, acredita que a população não se interessa porque o assunto não diz respeito à maioria. “Sei que trata da demarcação de terras indígenas. Não sei resultado nem a localização da reserva. A questão não é que está sendo pouco divulgado, mas que as pessoas realmente não estão interessadas”, diz.

A advogada Patrícia Stoky, 28 anos, de Manaus, está acompanhando o caso, mas teme que seja cometida uma injustiça com os arrozeiros que vivem na região. “Meu receio é que, no futuro, se perceba um erro ou uma injustiça em acabar com a tradição da produção de arroz naquela área. São diversas gerações de famílias envolvidas nesse trabalho. E o que será feito com as plantações de arroz? Elas serão destruídas ou ficarão com os indígenas?”, questiona.

Para o estudante curitibano Pedro Américo Duarte, 22 anos, os índios devem ter o direito de permanecer na terra e os arrozeiros devem ser retirados. “Se os sem-terra não podem invadir propriedades dos fazendeiros, os fazendeiros também não podem invadir as terras dos índios”, defende.

Confira os depoimentos colhidos pela reportagem da Agência Brasil nas ruas de Manaus, São Paulo, Curitiba e Brasília.

“É uma briga dos índios e dos arrozeiros. Acho que a terra toda deveria ficar com os índios porque a gente deve muito a eles ainda. Os arrozeiros deveriam ser retirados e, para compensar, o governo deve apoiá-los em outras terras porque eles já fizeram muitos investimentos onde estão agora”, Kely Eustáquio, bibliotecária, Brasília

“É uma operação da Polícia Federal? Na verdade eu vi uma reportagem sobre isso na televisão falando sobre a demarcação das terras e nada mais”, Gleidson Neres dos Santos, estudante universitário, Brasília

“Na minha opinião, os indígenas causaram uma confusão muito grande em torno dessa questão. O melhor seria que todas as partes envolvidas entrassem num acordo. O arrozeiro que quisesse ficar na reserva, por exemplo, teria que garantir respeito ao indígena e vice-versa. A área é grande demais e daria para abrigar índios e não-índios”, Robert de Castro, farmacêutico, Manaus

“Está sendo julgada uma idéia dos agricultores de lá que lutam contra as terras dos índios. Ele [arrozeiros] querem seus direitos na hora de dividir as terras. Penso que deve ser valorizado quem foi até lá fazer agricultura e, portanto, a demarcação em ilhas. Valorizar tanto os índios como o homem que arriscou a vida na roça, produzindo para o país”, Luiz Edílson Barros , professor, Brasília

“Trata-se de uma situação complicada porque envolve interesses econômicos, indígenas e até mesmo políticos. É preciso pensar se a demarcação contínua vai mesmo garantir a sobrevivência permanente da cultura dos indígenas que vivem na reserva. Não é só dar a terra, tem que acompanhar e auxiliar para que haja sucesso dos interesses indígenas”, Mira Batista, advogada, Manaus

“Eu trabalho demais, não tenho tempo para ver notícias. Não sei nem do que se trata”,  Alexander Mendonça Garcia, carregador, São Paulo

“Não sei dizer o que está sendo julgado. Ouvi alguma coisa na TV Justiça. Acho que a divulgação, na TV aberta é restrita. Na TV paga você consegue ter noção do que está acontecendo. Só sei que é sobre uma reserva indígena mas não sei qual a finalidade”, Roger Oliveira, vendedor, Brasília

“Ouvi um boato a respeito do caso. É uma região diferente daqui, fica lá em cima né? Acho que o que o mundo precisa é de alimento e os fazendeiros devem continuar plantando arroz. O que os índios vão fazer, replantar a floresta? Duvido”, Mariano Francisco, vendedor, São Paulo

“Sou contra a demarcação contínua. A distribuição de áreas tem que ser fracionada. E o governo tem que estar atento ao que acontece naquela região. Se ficarem só os índios há o risco de ONGs [organizações não-governamentais] internacionais se infiltrarem com mais facilidade para explorar a biodiversidade da região”, Edméia Sidonuk, 60 anos, Curitiba

“Não sei o que está sendo discutido lá. Pensei que fosse uma coisa mas é outra, eu achei que fosse algo relacionado aos sem-terra. O assunto é mal divulgado, mas talvez exista preconceito, a sociedade não aceita esse tipo de discussão. Os índios são muito excluídos”, Andreza Barbosa, estudante universitária, Brasília



* Colaboraram Amanda Mota, Ivy Farias, Lúcia Nórcio, Paula Laboissière e Roberta Lopes  


Agência Brasil - Nas ruas, muita gente ainda desconhece discussão sobre Raposa Serra do Sol - Direito Público

 



 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário