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segunda-feira, 23 de março de 2009

Agência Brasil - Catadores reclamam que trabalham mais e recebem menos - Direito Público

 
23 de Março de 2009 - 07h24 - Última modificação em 23 de Março de 2009 - 08h38


Catadores reclamam que trabalham mais e recebem menos

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

 
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Brasília - A crise econômica mundial, que afetou a maioria dos setores produtivos, atingiu também a reciclagem de resíduos sólidos no país. O preço do plástico das garrafas PET, das latinhas de cerveja e refrigerante encontradas no chão ou do papelão que servirá para novas embalagens caiu junto com o valor fixado no mercado internacional para as commodities como derivados de petróleo, alumínio e celulose.

“Nós vemos uma redução da demanda desse material todo por causa da redução de consumo”, explica Izabel Zaneti, professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB). “O petróleo caiu de US$ 160 para US$ 40 o barril, é lógico que isso reduziu o preço do plástico que é extraído do petróleo”, acrescenta.

A redução da demanda e do preço do resíduo sólido é sentida especialmente no elo mais fraco da cadeia produtiva da reciclagem. Catadores de materiais reclamam no país inteiro da queda dos ganhos, do aumento de serviço e da prorrogação da jornada de trabalho. “Eles não estão excluídos, eles estão mal incluídos nessa cadeia produtiva e sempre vão ter a parte pior da exploração”, alerta Zaneti.

Sandra Regina Caselta, tesoureira da Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro, de Interlagos em São Paulo, confirma o diagnóstico da professora, mas acrescenta que há especulação de preço e exploração no mercado. “Os compradores [de resíduos sólidos] sabem que as cooperativas precisam vender o material para ter capital de giro para as despesas mensais”, lembra.

“O que está acontecendo é uma exploração dos intermediários que compram volumes menores de pequenas cooperativas ou de catadores independentes, para ainda pagar mais barato, explorando em nome de uma crise”, acusa Sônia Maria da Silva, diretora-presidente da cooperativa 100 Dimensão, que funciona há dez anos no Riacho Fundo, uma das regiões administrativas do Distrito Federal. “Na verdade, a crise nem chegou como deveria chegar aqui. Está havendo uma rede de exploração ao menor, ao miserável”, lamenta.

João Alexandre do Carmo, catador há 14 anos no Lixão da Estrutural, que abriga a maior parte dos resíduos produzidos na capital federal e nas cidades satélites do DF, também reclama dos atravessadores. “O comprador faz lá um contrato e chega aqui com outra conversa”, resume.

O pequeno atravessador Ed Paulo Leonaldo Gomes, ex-catador e que hoje comercializa o material reciclável da Estrutural em Brasília, exportando os resíduos beneficiados para outros estados, confirma que a remuneração de quem compra dos catadores e trata o material para revender é bem melhor, mas diz que também sentiu os efeitos da crise.

Segundo ele, sua renda (que já chegou a ser de R$ 6 mil) caiu para menos da metade, e ele teve de demitir quatro empregados em um grupo de 18 pessoas. Ed Paulo diz que a crise não afetou sua produção de 90 toneladas de material reciclável por mês, mas o valor que recebia.

A pesquisadora Valéria Gentil, da UnB, explica que em Brasília há um afunilamento da comercialização de resíduos sólidos. No ápice da pirâmide, há uma única grande empresa intermediária que exporta a maior quantidade. No meio, estão os atravessadores com capacidade diferente de beneficiamento e estocagem de material.

Segundo verificou em sua dissertação de mestrado defendida no ano passado, o intermediário e os atravessadores que estão no alto da pirâmide cartelizam o setor e estabelecem preços para toda a cadeia produtiva, fixando em valores baixos o preço pago aos catadores que estão na base da pirâmide.

Seja por causa da queda dos preços no mercado internacional, formação de cartel ou exploração direta de atravessadores, o fato é que os catadores de resíduos sólidos afirmam que estão trabalhando muito mais e recebendo bem menos.

A catadora Lúcia Fernandes do Nascimento, há oito anos no mesmo lixão, afirma que para receber o mesmo que ganhava antes de outubro do ano passado (cerca de R$ 50 ao dia) chega a estender sua jornada de trabalho das 6h até as 20h. “A gente cata porque tem que sobreviver”, afirma.

Joel Carneiro da Silva, marido de Lúcia Fernandes e catador há 18 anos, confirma que “essa é a pior crise que passou” e calcula que na cooperativa à qual pertence (Cooperativa de Material Reciclável da Cidade Estrutural) o ganho dos sócios caiu 60%. Auxiliadora Souza, desde 1991 no Lixão da Estrutural, reclama que recebe R$ 120 por oito enormes fardos de plásticos (chamados de bags pelos catadores), quando já chegou a receber R$ 300 em melhores dias.



 


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